Envelope Vazio
- Prof. Paulo Buhrer
- 1 de fev. de 2019
- 3 min de leitura
Certo dia, pedi ao office-boy, como de costume, para que efetuasse o depósito de um cheque em minha conta no banco. Também, habitualmente, após o depósito realizado, ele me entregou o comprovante. No dia seguinte, ao acessar o extrato bancário, notei que o depósito não havia aparecido. Imediatamente liguei para o gerente, e lhe contei o ocorrido, repassando a ele o número do comprovante, e após suas verificações, ele me responde: “Paulo, o envelope estava vazio. Tinha somente o valor por fora, mas, dentro, não havia valor algum”.
O boy havia esquecido de colocar o cheque no envelope, pois, ao lhe contar a situação, foi até sua pasta e notou que o mesmo ainda estava ali. Dirigiu-se ao banco, e efetuou, agora com o cheque dentro do envelope, o depósito.
Muitos de nós somos como um envelope de depósito vazio. Por fora, podemos colocar o valor que quisermos. Mas, quando abrem o envelope, veem que por dentro ele não vale nada.
Conquistamos tantas coisas, e as usamos para deixar claro que as outras pessoas valem menos, são menos importantes. Em alguns casos, o valor externo que mostramos, bloqueia o acesso dos outros aos ambientes que frequentamos, como se nosso valor exterior fosse superior ao valor do que está dentro.
Tudo o que é bem material tem sua importância. Um carro tem seu valor financeiro. Mas ele só vale de verdade, se trouxer humildade, felicidade, prazer por sentir o vento no rosto, de preferência, curtindo ao lado de quem amamos, e dos amigos que estão conosco desde cedo, e daqueles que vão surgindo pelo caminho, e nos amam além das nossas conquistas.
Uma casa grande e aconchegante é um sinal de que nos demos bem na vida, mas será como um envelope vazio, se não houver nela uma prece de gratidão pela mesa linda posta para o jantar, cheia de bagunça e gritaria, tamanha é a diversão familiar nesse momento.
Ir à um restaurante caro é um momento mais que especial, pois pode saciar muito mais do que nossa fome fisiológica, mas, também, a de nos sentirmos felizes pelo conforto proporcionado aos que amamos.
Uma roupa de grife tem seu valor, mas é só um envelope vazio, se quem a tem, veste-se de soberba, e usa seus termos para humilhar o flanelinha, o cara que estaciona seu carro, ou para jogar água das poças em quem espera pelo transporte público.
Somos um envelope vazio quando usamos nosso cargo na empresa para pisar em quem quer subir, tentando roubar seus sonhos, ou cremos que nosso posto serve para humilhar a zeladora ou o porteiro.
Somos envelope vazio quando falamos mal da empresa na qual trabalhamos, e que nos dá, pelo menos, a condição de levar pão e leite para casa. Do mesmo modo, quando reclamamos das metas, da crise, da economia, do governo, para não fazermos o que precisa ser feito, e deixamos desfalecer ideias, estratégias e atitudes que teriam o poder de mudar o destino do negócio. Porém, preferimos aparentar competência externa, usando discursos e mais discursos positivos, que na prática, não se consolidam.
Também somos envelope vazio quando, na posição de empreendedores, furtamos direitos de quem troca horas e dias da sua vida para nos gerar lucro, quando prometemos externamente, como dizia minha avó, o mundo a eles em troca do seu comprometimento, mas, na hora do contracheque, não lhes pagamos o que é devido.
Somos envelope vazio quando criamos ou espalhamos boatos, fofocas, com a intenção de denegrir a imagem de alguém, que nem sempre tem a possibilidade de se defender.
E, também, somos envelopes vazios, quando nas festas, eventos sociais, disparamos sorrisos e abraços aos pais, avós, irmãos, para que as fotografias e postagens nas mídias fiquem brilhantes. Todavia, no seio familiar, desrespeitamos uns aos outros, ofendemos, gritamos, magoamos, criticamos em excesso, e cada um vive num cômodo, à margem do amor e do diálogo.
Muitos de nós, várias vezes, somos um envelope vazio. Por fora vivemos abastados, cheios de valor, mas, por dentro, não valemos nada, ou nem sombra do que aparentamos.
Isso traz consequências gravíssimas, pois, quando, por alguma razão, revelamos o que temos por dentro, todo aquele valor aparente, se torna nulo, agravando nossas relações profissionais e pessoais.
Deixemos de ser um envelope vazio, para que quando virem nosso valor interno, mostremos um valor potencialmente maior do que aquele que aparece por fora. Com isso, seremos valiosos no mundo corporativo, nas relações afetivas, e não afeta em nada nosso valor exterior, que tende a ser ainda mais valorizado, quando o interior também é precioso.
Forte abraço, fique com Deus, sucesso e felicidades sempre.
Prof. Paulo Sérgio
Empresário e Palestrante
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