O escovão e a blusa de lã verde
- Prof. Paulo Buhrer
- 8 de mar. de 2019
- 4 min de leitura
Na pequena casa de madeira em que eu morava com minha avó, o chão das três peças era de madeira, uma madeira velha, mas com boas tábuas. Por menor que fosse a casa, e por mais simples que tudo fosse nela, minha avó dizia que “pobreza não era sinal de relaxo”, num sinal de que a deveríamos manter sempre limpa.
Por isso, lembro que todo mês ela comprava uma lata de cera da marca Guanabara, e me pedia para passar no chão. Depois disso, eu pegava um escovão, vestia uma blusa de lã verde nele, e lustrava até que o chão ficasse brilhando. No começo era chato, e cansava bem rápido, mas, quando a vovó tirava a blusa do escovão e me pedia para sentar sobre ela, era só alegria e gargalhada, pois vovó me arrastava sobre a blusa e lustrávamos toda a casa. Ou seja, o trabalho pesado virava pura diversão, e no final, o chão da nossa “meia-água” estava reluzindo.
É assim que tem de ser o seu trabalho. Mesmo que ele seja cansativo, pesado, um pouco entediante, estressante, talvez só esteja desse modo porque você não está sabendo encontrar o melhor jeito de realizá-lo.
Provavelmente você tenha tido uma infância parecida, ou, quem sabe, até lustrou a casa com um escovão e uma blusa de lã. E mesmo que isso não tenha acontecido, tenho certeza de que diversas obrigações que você tinha, quando viravam uma espécie de brincadeira séria, você trabalhava e se divertia ao mesmo tempo. Afinal, todo trabalho quando é feito com bom humor, se torna melhor, mais agradável de fazer.
Não importa se você é diretor de uma multinacional, ou um vendedor de materiais de construção de uma cidade do interior. Não interessa tanto se você é um grande empresário com altos lucros, e com um estresse diário enorme, que mal consegue dormir tamanha é a agitação, ou um ajudante de pedreiro, que não ganha lá grande coisa, porém, dorme como pedra, sem qualquer estresse ou cansaço mental. O que importa é o jeito como você vai passar a realizar seu trabalho, com mais alegria, pois atuar dessa maneira alivia a carga diária, o peso nos ombros, na alma e no corpo.
Isso traz resultados fantásticos para sua produtividade, vendas, lucros, e principalmente, para sua vida de maneira integrada. Tanto é verdade, que eu não queria que acabasse o período de lustrar o chão, e insistia para a vovó que não parássemos de "brincar".
Será que você não está levando muito a sério os problemas? Se os tratasse com o mesmo comprometimento, mas, com mais bom humor, eles ficariam mais leves e você encontraria mais fácil as soluções, pois além de ser mais divertido, tornaria o ambiente no qual trabalha em um local agradável, atraindo mais pessoas para ajudar nessa brincadeira de gente grande que é trabalhar e solucionar problemas.
Como líder, será que não está muito tenso o clima entre você e a equipe? Às vezes o ambiente é tão ruim, que as pessoas da equipe, ou toda ela, acaba sabotando a liderança, não entregando o que precisam entregar, só para se vingarem do perfil assustador de quem lidera. Que tal subirem numa blusa de lã e saírem por aí brincando de um jeito sério, para se conectarem mais?
É essa conexão com a alegria, com aquele jeito de criança achar graça de tudo, mas sempre focada em arrumar a melhor maneira de realizar alguma atividade, que vai unir todo o time em busca das metas, de um ajudar o outro a fazer sucesso, sabendo que é assim que o sucesso de todos se torna menos difícil.
Atuando como vendedor, será que não está sendo formal demais com seus os clientes? Querendo falar palavras difíceis porque foi a algum treinamento e lhe ensinaram assim, sendo que, a imensa maioria das vendas acontece quando criamos um relacionamento mais estreito e divertido com eles, mantendo, claro, o profissionalismo? Será que não está fazendo prospecções monótonas, insossas, sem graça? Quem sabe se tratasse com mais alegria a secretária do chefe com o qual quer falar, não teria acesso mais fácil a ele?
E até como pai, mãe, será que seu relacionamento com os filhos não está difícil porque você se tornou tão sério, que não teve outra maneira deles se divertirem, a não ser se afastarem? Alguns pais quando passam dos quarenta, se tornam velhos em termos de bom humor, e ficam ruminando até no churrasco com aquele palito de dentes indo de um lado para o outro na boca. Ou, no outro dia pela manhã, em vez de agradecerem pela noite maravilhosa e divertida, preferem reclamar da limpeza que precisa ser feita. Ou seja, aos poucos as festas vão diminuindo, pois ninguém aguenta aquela cara azeda de poucos amigos no dia seguinte.
Estou aqui pensando, e acho que você dono de empresa, chefe, diretor, líder, zelador, pai, mãe, ou qualquer que seja sua posição, em vez de tornar tudo tão cansativo e pesado, enfadonho e sério, e andar ruminando aí pelo chão da empresa ou de casa, igual a um velho ranzinza, deveriam todos pegarem um escovão e algumas blusas de lã, e saírem por aí brincando seriamente de resolver problemas, criar soluções e relações de trabalho ou pessoais, mais bem-humoradas e prazerosas.
Forte abraço, fique com Deus, sucesso e felicidades sempre.
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